Viajando com adolescentes: 10 dicas para sobrevivência e diversão nas férias da família



A relação com seu filho adolescente pode ser muito tranquila ou mais turbulenta, mas de qualquer modo, é importante considerar que nesta fase do ciclo vital ele estará passando por importantes mudanças. Em uma viagem, lembrar deste aspecto pode ser relevante, você certamente não precisa se surpreender (ou mesmo se preocupar) se aquela sorveteria ou parque que sempre representou o ponto alto de um dia cotidiano de férias repentinamente tornar-se absolutamente desinteressante. A área kids do hotel sem dúvida não terá mais o encanto de antes. Ir com você ao supermercado para abastecer a geladeira ou compartilhar a refeição na beira da praia, decididamente, talvez deixe de ser para ele o ideal em termos de momento de lazer. Tudo bem, e as férias podem ser muito legais para todos, desde que as expectativas possam ser ressignificadas e alguns ajustes permitam que pais e filhos usufruam da experiência.

A adolescência traz como tarefa para quem a vive e família reverem o lugar do sujeito em seus grupos, seu mundo. Não é fácil para os pais verem seus “pitocos” caminhando rumo à vida adulta e para estes ressignificar experiências e editar interesses, valores, parcerias. Viajar em família, nesta fase, portanto, pode ser desafiador, especialmente se alguns aspectos básicos não forem considerados. Claro, adolescentes não são únicos e diferentes adolescências demandam diferentes ajustes para que diversão e relaxamento em família sejam possíveis. Mas de modo geral, algumas considerações podem tornar os momentos de férias em família especiais com seus filhos neste momento. A partir da experiência como mãe, psicanalista e professora de psicologia, compartilho algumas considerações que – se não ajudarem – talvez possam servir como ponto de partida para reflexões...  

1. Não espere que seu filho seja “como sempre foi” em férias. Interesses mudaram, algumas atividades até então garantidas como lazer perderam a força, enquanto outras inusitadas ganharam lugar no planejamento. Portanto, vale considerar também estes novos interesses no planejamento de viagens. Você talvez não tenha como objetivo gastar um turno de sua viagem para descobrir lojas de Animes ou KPop em Paris ou Bruxelas, mas se para seu filho isso for importante constar no roteiro, por que não incluir esta possibilidade entre as visitas ao Louvre, Torre Eiffel ou Atomium? As férias são de todos, certo? Por outro lado, se tudo que o adolescente parece querer é paz e sossego, pressioná-lo para que faça alpinismo ou caminhadas ao ar livre pode não resultar em uma criatura agradável a seu lado na atividade.

2. Diferente de quando era uma criança pequena, seu filho estará mais pronto para participar de resoluções quanto à viagem e ajustes considerando tempo disponível, orçamento, interesses de todos. Portanto, estudar os destinos – ao menos conhecer suas características básicas – pode ser uma atividade em família importante para o planejamento e também tornar a viagem um momento de todos. Inclua seu filho na organização e preparação da viagem..

 

3. Parceria e atividades em família são importantes, mas momentos para cada um viver as próprias experiências também. Pais podem – desde que o local ofereça segurança para isto – caminhar até o restaurante da esquina para aquela experiência gastronômica sonhada, sem que o adolescente tenha que acompanha-los sempre. Da mesma forma, permitir experiências breves do adolescente no destino, como passeios pelo bairro, lojas ou supermercado para comprar um produto de que necessita, trará a este uma experiência de apropriar-se do local e ganhar confiança para esta e outras experiências. Além disso, talvez você entenda que cada minuto na viagem é precioso para visitar o máximo de lugares possível, mas ele considere que alguns momentos a sós, ou em contato com seus amigos “em casa” via celular, ou simplesmente flanar pelas redes sociais, pode ser fundamental. Então, pode ser importante tolerar se naquele dia maravilhoso para praia ele preferir ficar em casa dormindo, lendo um livro, jogando vídeo game ou fazendo nada (o que aliás adultos também precisam muitas vezes).

4. Viajar com famílias com filhos em idades próximas pode ser interessante e facilitar a elaboração de roteiros que proporcionem experiências diferentes para todos, mas não conte como certo que o simples fato de estarem em momentos de vida semelhantes garanta amizades. Diferentes “tribos” podem ou não estabelecer parcerias... então, simplesmente viajar com aqueles amigos que tem filhos da mesma idade, com o qual seu filho não tem muita afinidade, talvez não facilite a viagem.

5. Não suponha pelo seu filho, como talvez tenha feito muitas vezes até este momento, sem escutá-lo. Certo, ele sempre gostou de viagens para a praia, mar e esportes náuticos. Mas talvez neste momento em que a relação com o corpo pode ser complicada, prefira outros tipos de experiências. Escutá-lo na hora de decidir o que farão juntos pode contribuir para a disponibilidade para as férias que estão programando. E talvez também novos interesses para todos possam surgir e vocês descubram coisas divertidas que até então não pensavam em fazer juntos.

6. Estímulo a novas experiências pode ser importante, mas a obrigatoriedade delas faz a diversão ser menor. Talvez uma negociação entre atividades em família, visitas a pontos turísticos, inclusão de experiências desejadas por cada um e espaço para momentos de privacidade torne o processo muito mais interessante e a experiência de férias em família memorável para todos. E lembre-se, você também pode aprender vendo a vida pela perspectiva de seu filho...

 

7. Permita-se surpresas e estimule seu filho a fazer o mesmo. Ok, ele cresceu e talvez não queira construir castelinhos na beira da praia como adorava fazer quando criança. Mas todos podem descobrir que relaxar e usufruir de experiências inusitadamente pode ser divertido. Então, se der vontade, por que não uma volta ao que na infância proporcionava tanta diversão? De outra perspectiva, talvez todos possam aproveitar a experiência...

8. Por fim... Humor é essencial! E no caso da adolescência, as mudanças hormonais contribuem para variações que, se você estiver disposto a entender, poderá auxiliar e tornar menos significativas na rotina de férias. Sim, vocês podem estar gastando valores importantes no orçamento da família e pode ser desagradável perceber que, para ele, estar com você naquele local já não é tudo o que quer na vida, e um passeio ou programação que envolveu planejamento e custo não alcançou o efeito esperado.  Talvez possa ser frustrante se deparar, em alguns dias para os quais você teceu planos importantes de férias, com uma criaturinha pouco disponível à diversão compartilhada. Mas se você considerar o contexto das transformações que seu filho está vivendo, poderá intervir com a dose de flexibilidade, tolerância e pareceria que todos precisam para tornar estas férias agradáveis. O adulto é você, é importante que todos se lembrem... e as vezes uma experiência incrível surge em um momento completamente imprevisível.

9. Seu filho está aprendendo a situar-se em seu novo momento, e você também. Todos acertam e erram neste processo e lidar com os inconvenientes e novidades com uma boa dose de flexibilidade não só poderá tornar a experiência da viagem mais agradável para todos, mas fortalecer os laços entre vocês.

           

10. Como diz Winnicott, psicanalista inglês que se dedicou ao trabalho com crianças e adolescentes durante toda a vida, a adolescência é um processo que só passa com o tempo... então divirtam-se durante o período, vivam o que pode ser enriquecedor no processo e viagem juntos... este percurso, como todos os outros, também chega ao final e pode ser uma fonte de aprendizado para pais e filhos! E, bem... a maior parte das considerações aqui feitas sobre viagens, vale também para o dia a dia convivendo com a adolescência...

 

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